Dia Mundial do TDAH: como cultivar o hábito da leitura em tempos de distrações digitais
Leitura: um desafio na era da hiperconexão
Comemorado em 13 de julho, o Dia Mundial do TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) é uma oportunidade para refletir sobre os obstáculos enfrentados por quem convive com o transtorno, especialmente no que diz respeito à concentração e ao foco. Em um mundo dominado pelas redes sociais e pelos estímulos constantes, até mesmo atividades simples como a leitura de um livro exigem esforço redobrado — e isso vale tanto para pessoas neurotípicas quanto para neurodivergentes.
Atenção em declínio: o impacto das redes sociais
A escritora e curadora literária Thaís Campolina observa que a dificuldade de concentração na leitura não é exclusividade de quem tem TDAH. “Estamos todos desaprendendo a ler. A quantidade de estímulos e o ritmo acelerado das redes afetam diretamente o funcionamento do nosso cérebro, alterando nossa forma de atenção”, explica. Esse cenário é ainda mais desafiador para pessoas com TDAH, que são mais suscetíveis à distração e à busca por recompensas rápidas, como as proporcionadas por vídeos curtos e conteúdos efêmeros.
TDAH e leitura: um caminho possível
Apesar dos desafios, é plenamente viável desenvolver o hábito de leitura, mesmo com o diagnóstico de TDAH. Thaís afirma que, embora o início seja difícil, a prática traz inúmeros benefícios ao cérebro e pode se tornar uma fonte de prazer. “Ler é como praticar uma atividade física: no começo há resistência, mas com o tempo, o corpo — e no caso, a mente — agradece. Isso se transforma em motivação para continuar”, comenta.
Como criar uma rotina de leitura mesmo com TDAH
1. Escolha livros que despertem seu interesse
Evite leituras obrigatórias ou técnicas no início. Comece por histórias que realmente despertem sua curiosidade e prazer. Segundo Thaís, “se divertir lendo é o primeiro passo para transformar a leitura em hábito”.
2. Explore diferentes formatos e estilos
Romances, quadrinhos, crônicas, poesia… experimente gêneros diversos até encontrar aquele que mais combina com seu estilo de leitura. A diversidade literária pode ser um grande trunfo para manter o interesse.
3. Descubra o melhor horário para ler
Ler todos os dias pode não ser possível, mas ler com frequência é essencial. Teste momentos do seu dia em que a leitura possa encaixar com mais naturalidade — antes de dormir, durante o café da manhã, no transporte público ou até na hora do almoço.
4. Reduza as distrações ao seu redor
Mantenha o celular longe ou em modo avião, use fones com ruído branco e crie um ambiente tranquilo. Para quem tem dificuldade com livros físicos, os audiobooks são uma excelente alternativa. “Se você gosta de ouvir podcasts, tente escutar livros em áudio e veja como se adapta”, sugere Thaís.
5. Transforme suas redes sociais em aliadas
Siga perfis literários, acompanhe recomendações de livros e participe de conversas sobre literatura. Criar um ambiente digital voltado para a leitura pode ajudar a reprogramar o cérebro para buscar esse tipo de estímulo com mais frequência.
6. Envolva-se em grupos de leitura
Participar de clubes de leitura, sejam presenciais ou virtuais, pode aumentar o engajamento. Esses espaços promovem trocas ricas, estimulam a reflexão e ampliam o repertório literário dos participantes. Além disso, favorecem conexões afetivas por meio dos livros.
7. Use a leitura como forma de desconexão
Se a imersão direta em um romance parecer difícil, comece por atividades mais leves, como livros de colorir, palavras-cruzadas ou livros interativos. Essas práticas ajudam a afastar o excesso de telas e preparar a mente para leituras mais densas.
Paciência, consistência e autocompaixão
Thaís Campolina reforça que o hábito da leitura não nasce do dia para a noite. É preciso começar devagar, respeitar os próprios limites e entender que constância é mais importante do que quantidade. “Cultivar o hábito de ler é um processo de construção — feito com curiosidade, acolhimento e um passo de cada vez”, conclui.

Quem é Thaís Campolina
Natural de Divinópolis (MG), Thaís Campolina é poeta, redatora, mediadora de leitura e curadora literária. Autora dos livros “eu investigo qualquer coisa sem registro” (vencedor do Prêmio Poesia InCrível) e “estado febril” (Macabéa, 2024), também publicou diversas plaquetes e obras digitais. Pós-graduada em Escrita e Criação pela Unifor, atua com oficinas literárias, leitura crítica e mediação de clubes como o Leia Mulheres Divinópolis, Cidade Solitária e Casa das Poetas. Thaís é ainda responsável pela curadoria do perfil Bafo de Poesia nas redes sociais.